terça-feira, 23 de novembro de 2010

Dor

O recomeço é sempre difícil. Minha vida pregressa foi simplesmente descartada. A saudade de todos meus amigos e familiares já é evidente, bem como as dificuldades financeiras por conta de aluguel e tantos outros novos custos, para os quais ainda não tenho uma receita para suprir.

Hoje comemorei meus 31 anos relembrando quantas dificuldades os últimos tempos me deu e as tristezas que me acompanham desde então. Entristeço pelos prejuízos ao meu filho, tanto financeiros quanto emocionais.

Aqui, sozinho, meu único consolo é ver meu filho diariamente, oportunidade dada na última audiência. Apesar das severas regras impostas, finalmente consegui iniciar a reconquista do meu filho, que já começa a lembrar de meu rosto a cada encontro.

Resolvi silenciar-me um pouco perante a imprensa para que as próximas etapas do processo se apresentem. Enquanto isso, resta-me esperar e continuar visitando-o diariamenrte.

sábado, 13 de novembro de 2010

Repercurssão

Até o momento o esforço valeu a pena. Dois artigos foram publicados, além de uma reportagem na TV Tribuna que estou tentando conseguir uma cópia. Para qualquer um que me identifico como "o cara que veio pedalando", imediatamente sabem quem sou. Falta agora formalizar meu vínculo com uma associação de pais para que tenhamos em Recife uma estrutura de apoio a pais na mesma situação que a minha.

Por sorte, e graças a solidariedade do pessoal daqui (obrigado Enio e família), estou hospedado próximo a uma feira literária, a Fliporto. Darei andamento a construção de livros contando a história. Um primeiro volume destinado aos pais contando o drama, o processo, os erros e acertos. Num segundo volume, destinado aos amantes de viagem, sobre como foi toda a jornada, com muitas informações que tiveram que ser omitidas do site para que não ficasse extenso, além das muitas fotos do caminho.

Não tenho experiência em escrever, mas também não tinha em pedalar. Vamos ver o que irá acontecer. Minha audiência também será em alguns dias e contarei qual será o resultado.


Fim da viagem

Entrar em Pernambuco foi tranquilo. Com a ansiedade por findar a viagem, segui sem muitas paradas rumo a próxima parada. Tive apenas o contratempo de duas trocas de pneu, graças a uma câmara furada trocada por outra já furada que eu havia guardado.

Porto de Galinhas
A parada foi em Sirinhaém, numa pequena pousada no centro da cidade. Com a proximidade do destino final, entrei em contato com um amigo que acompanha a lista desde o início, o Enio, que é ciclista em Recife. Ele ficou de me ajudar na confecção de uma faixa para exibir no fórum, bem como acompanhar-me até lá.

De Sirinhaém havia muito tempo livre para a chegada em Recife, programada para o próximo dia. Para ocupar o tempo fiz um pequeno desvio para Porto de Galinhas, uns 40km de desvio no meu percurso. Chegando lá dei um pequeno passeio na cidade, tomei um caldinho de feijão e segui viagem.

Durante o trajeto resolvi cortar caminho pelos canaviais, o que foi uma péssima idéia. A quantidade de moscas ali era medonha! Além disso, havia uma ponte quebrada no caminho que me fez voltar praticamente todo o caminho. Meu percurso total no dia foi de 96km, parando dentro da região metropolitana de Recife.
Ponte quebrada

Uma vez lá, tive a agradável surpresa de que o Enio iria se encontrar comigo por lá, o que aconteceu mais tarde. Tivemos uma boa conversa, falamos sobre a viagem e planejamos o dia seguinte. Logo pelas 09h00 ele batia na porta da pousada para fazermos o último trecho do percurso.
Seguimos com ele liderando até uma praça em Boa Viagem, já dentro de Recife. Foi nosso primeiro ponto de parada, onde encontramos o pessoal da TV Tribuna - Rede Record. Tivemos uma longa conversa com a equipe e gastamos 1h30 fazendo a matéria. De lá, partimos para o último momento do trajeto - a chegada ao fórum Joana Bezerra.

Tive muita satisfação em finalmente chegar ao fim da linha. Demos a volta no fórum e tiramos várias fotos, além de darmos duas entrevistas aos principais jornais da cidade - Diário de Pernambuco e Folha de Pernambuco.
Chegada no fórum

A matéria na televisão já foi publicada, mas não consegui ter acesso a uma gravação para coloca-la no blog. Tentarei na própria emissora amanhã. Amanhã também haverá a publicação dos jornais, que tentarei escanea-los e publica-los.

Agradeço ao apoio e carinho de todos. Os muitos que me ofereceram carona pra voltar, caso não conseguisse (e foram realmente muitos!), as pessoas que me foram gentis no caminho, as que me socorreram nas horas de maior necessidade. O pessoal do "Pais por Justiça" e da "PariciPais" exerceram funções importantíssimas em toda esta jornada. A viagem, além do protesto, foi uma verdadeira lição de vida. Aprendi o que é ter que mendigar, passar fome e sede, o que é ter medo, o que é arriscar a própria vida, de sentir o lado bom e ruim da completa solidão. Tive muitas decepções e muitos momentos de alegria, mas o principal, tenho uma demonstração para meu filho de que me importo com ele. Caso ele não venha a conhecer o pai pelos próximos anos, saberá que estou presente ao lado dele, de corpo e alma, e que terá sempre meu amor.

A parte fácil da jornada está concluída. Agora vem a parte difícil. Terei a nova audiência de conciliação no dia 17 e de lá saberei quais as próximas medidas a tomar. Espero que desta vez me permitam reestabelecer o vínculo com meu filho.
Também recomeço minha vida em Recife. Graças a generosidade da família do Enio, me conseguiram dois dias de pousada por aqui. Terei que aproveitar os próximos dias para levantar uma fonte de renda por aqui e conseguir um lugar mais definitivo pra ficar.

Obrigado a todos que partilharam estes dias de viagem. Convido-os agora a partilhar da luta pelo meu filho, pois esta batalha está somente no início.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Chegando em Pernambuco

A saída da Ilha da Crôa se deu pelo meu lugar preferido - a beira do mar. Tanto é o caminho mais curto quanto o mais bonito e mais prazeroso. Nesta região em especial pude ver cenários incomuns, tal como um bar num lugar de acesso extremamente difícil, no meio do nada. O mais curioso era que estavam com clientela, que vieram de carro pela areia da praia.

Adiante pude ver outra cena bizarra - um veículo vindo a tona na praia, fazendo gracinhas, começou a "saltar" nas ondulações da areia cada vez mais alto, até que bateu de frente com uma pedra. Um pedaço do farol e do parachoque ficaram no caminho e ele imediatamente reduziu a velocidade e seguiu de mansinho dali em diante.

Mais a frente ainda, um pequeno iate com umas 40 pessoas passeando por outro ponto deserto da praia. Estava achando muito agitado estes trechos "desertos". O maior presente veio adiante: formações ímpares na areia. O rastro de veículos parava ali, pois daquele trecho em diante era intransponível, exceto para que estivesse a pé ou de bicicleta! De início achei que se tratava de formações rochosas, pois eram extremamente rígidas. Com o caminhar pude identificar melhor.

Estas formações nada mais são que areia! Estavam extremamente endurecidas, mas em alguns poucos pontos era possível encontrar trechos menos rígidos. Foi um cenário único! Cada passo que dava via milhares de pequenos bichinhos correndo para todos os lados. Cada poça d'agua guardava uma supresa diferente, como peixes ou alguns crustáceos. Não era incomum encontrar um carangueijo passeando por lá. Além disso, tapetes sem fim de algas cobriam alguns pontos. Também haviam algumas árvores no meio do caminho.

Apesar da beleza do caminho, torcia para que logo terminasse. Transpor este trecho era muito penoso. Enfim, não muito depois, de volta as longas prais.

Segui até o final da linha, na foz de outro rio. Como da vez anterior, precisava localizar algum ponto de passagem (se houvesse). Não muito distante, vários barcos pescando que poderiam me auxiliar na travessia. Conforme margeei o rio, milhares de pequenos caranguejos correndo para todos os lados. Foi uma visão bem interessante.
Saulo
 

A travessia foi tranquila e me custou um real. De lá, mais um pouco de pedal, desta vez na estrada paralela a orla. Logo no início da estrada encontrei um jovem chamado Saulo, que me acompanhou por alguns trechos. Conversamos ao longo de caminho e ele me ofereceu um litro de suco que estava com ele. Parei no mercadinho de sua mãe e ficamos conversando enquanto matava a sede. Expliquei toda a história até acabar com a última gota da caixinha. De lá seguimos juntos os próximos 10km. Parece que acompanhado a pedalada rende muito mais.

Nos despedimos e fui em frente, adminirando cada vista que a natureza me apresentava no caminho. Que região linda!

Meu descanso foi em Maragogi/AL, praticamente a última cidade de Alagoas. Fiquei numa pousada ainda em fase de acabamento, com uma especial fartura nas refeições. Noite agitada, despertar no raiar do dia. Estou ansioso pelo fim da viagem e não quero perder tempo.

Pela manhã vários cumprimentos dos transeuntes, mas um rendimento um tanto lento. Pela hora do almoço avisto a divisa do estado.



terça-feira, 9 de novembro de 2010

Atravessando Alagoas

Rio São Francisco
A saída da Ilha das Flores foi a todo vapor, sustentando uma excelente velocidade em uma pista quase plana. Depois de uma pequena travessia de balsa, passei pela região de Coruripe/AL. Minha parada foi na cidade de Jequiá da Praia. Fiz 92km neste dia.

Um pequeno descanso em uma pousada barata, mais uma sequência de viagem. Como minha intenção de chegada era dia 16, estava com os dias folgados para chegar a Recife, permitindo certos abusos com o tempo. Quando avistei o mar e vi uma trilha de acesso, não exitei em entrar e explorar. Cheguei em Lagoa Azeda. Lá era um ponto sem saída, exceto pela areia da praia. Como a maré ainda estava favorável, prossegui por ela.

O lugar tinha uma estrutura peculiar, com altos montes margeando a praia, com vastas áreas erodidas. Meu caminho pela areia rendeu bastante, exceto pelo final, quando a maré subiu. Gastei metade do tempo de travessia para transpor os últimos 3km de praia, até a Praia do Gunga. Fiquei espantado com o movimento e aparentemente o espanto foi recíproco, com um ciclista saindo no meio do nada em meio a multidão.

Por todo caminho belas paisagens me acompanharam. Meu descanso foi na antiga capital de Alagoas, Marechal Deodoro, num ponto chamado "Praia do Francês". Apesar da distância pequena, estava tranquilo com o prazo.

Havia programado para o dia posterior um descanso em Maceió. A pedalada até lá foi tranquila, exceto pelos quilômetros finais que não havia acostamento e o trânsito estava intenso.

Ao adentrar na cidade, encontro a equipe do jornal Gazeta de Alagoas. É claro que imediatamente eu parei ao lado do carro deles e contei minha história. Fui escoltado até a redação com um carro da imprensa. Foi engraçada a reação das pessoas a minha volta, olhando curiosas em saber o que estava acontecendo.

Maceió/AL
Fiz uma pequena entrevista, tirei umas 100000 fotos e pus o pé na estrada. Consegui combinar com um colega ciclista de Recife para me escoltar nos quilômetros finais, e ele sugeriu dia 12. Essa mudança de planos me fez apertar o passo, pois agora o prazo estava apertado.

Aproveitei e marquei esta data como a oficial pra chegada. Desta forma fica mais fácil planejar.

Em passos fortes segui rumo a Ilha do Crôa, onde foi meu ponto de descanso. Por muito pouco não fiquei sem janta, pois o último restaurante aberto estava arrumando as mesas pra fechar. Os restaurantes do lugar fecham antes do jantar.

Ilha das Flores

Fim da linha na praia
Pedalar pela areia é muito prazeroso. Você tem a sensação de completa solidão, tendo como únicos sons o bater das ondas e o cantar dos pássaros. A visão é exuberante. Exceto por alguns pescadores, só havia areia a frente.

Por vários quilômetros este foi o cenário que me acompanhou. Bem... foi assim até o final da linha. Não havia visto direito no mapa nem fui informado que, em determinado momento, este caminho seria interrompido. Sem saber se se tratava de um rio ou uma curva, tive que começar a explorar a região. Fazer isso na areia fofa é extremamente desgastante.

Gradualmente fui margeando a região e avistando casas do outro lado do rio. Estava muito propenso a desmontar a bicicleta e atravessa-la a nado, mas apenas faria isso se tivesse esgotado a região próxima. Depois de quase duas horas explorando a região, avistei ao horizonte alguns coqueiros que matariam minha sede, pois a água estava se acabando e precisaria assegurar minha hidratação. Com muito esforço fui até o lugar, quando dei a sorte de avistar alguns pescadores. Não pensei duas vezes e segui atrás deles para pegar a informação da saída, que estava exatamente ao nosso lado. Foi um sufoco.

Pela estrada de terra pude encontrar um pequeno bar onde me reabasteci e prossegui rumo a uma balsa para atravessar o rio São Francisco. Logo neste bar um carro com olhares curiosos passou por mim. Pouco depois eu o reencontrei e pedi informações aos ocupantes. Eles me orientaram por onde prosseguir e assim o fiz.

Caminho rumo a Ilha das Flores
Pequenas comunidades pelo caminho, uma após a outra, até que reencontro o pessoal que me deu a orientação. Se propuseram a liderar o caminho pra mim e aguardar nos pontos chaves. É ótimo ter alguém nos orientando! Pouco depois ele parou e quis conversar um pouco. Contei toda minha história pra ele e prontamente ofereceu hospedagem em sua casa para a noite, em Ilha das Flores. Eu inicialmente declinei e seguimos com a escolta, mas depois fui percebendo que estava ficando tarde - já eram umas 16h00 - e não chegaria muito longe neste dia. Avisei-o e mudamos o trajeto para Ilha das Flores, 8km fora do meu destino.

Ele me recebeu muito bem e me apresentou a esposa e a filha de 2 anos (idade do meu filho) que não suportava ficar 1 minuto longe do pai. Para onde ele ia a menina ia junto e chorava se não fosse. Fiquei emocionado em pensar que era assim que encontraria meu filho em Recife.

Junior e família
Mais tarde ele falou com alguns amigos na cidade pedindo doações pela causa! Fiquei super constrangido, mas minha situação atual não me permite falar não e aceitei o dinheiro. Foi uma ajuda significativa.

Durante a noite não consegui dormir por vários pesadelos envolvendo o Francisco e o quão crescido ele já está. Fui excluído de muitos momentos importantes da vida dele.

De manhã o Junior levantou comigo as 05h00 e ME PREPAROU CAFÉ DA MANHÃ! Foi uma atenção muito especial e pude seguir viagem rumo a Alagoas com ânimo renovado!


domingo, 7 de novembro de 2010

Saindo de Sergipe

Posto Rodoviário em Aracajú
Comecei bem cedo meu dia, especialmente por estar de favor, queria ficar o menor tempo possível na pousada. Tomei meu café e segui estrada. A pedalada até aracajú foi bem tranquila, até que encontrei um posto rodoviário para pedir um pouco d'agua.

Ao chegar lá, me perguntaram de onde estava vindo e um pouco de toda a situação. Me receberam no lugar muitíssimo bem e chamaram a TV Record para informa-los do episódio.
 
A equipe da TV Atalaia chegou poucos minutos depois e fizeram uma reportagem ali mesmo no posto rodoviário.



Mais interessante que a reportagem foi a própria conversa que tivemos no posto, junto a equipe da TV e aos policiais. Praticamente todos nós passávamos por situações semelhantes. Uma das pessoas perdeu a guarda da filha pra mãe. Quando ela morreu, perdeu a guarda pra tia! Outros tiveram situações semelhantes e ninguém detém a guarda dos filhos!

Após concluída a reportagem, ainda fiquei um pouco mais no posto, pois me convidaram pra almoçar. Realmente era um pessoal muito gentil. Segui viagem, mas já um pouco tarde. Iria ficar por Aracajú mesmo, tirar dinheiro no banco e arrumar minha bicicleta que havia quebrado alguns raios.

Depois de encontrar um banco e aguentar os olhares estranhos pra uma pessoa fantasiada de ciclista dentro de uma agência, segui para uma bicicletaria logo adiante para arrumar os pequenos defeitos e trocar meu óculos que tinha quebrado de vez.
Ciclista Maurílio

Os alforjes da bicicleta chamam a atenção, pois foi a primeira coisa que perguntaram quando entrei: "de onde você vem?". Contei minha história e uma das pessoas que estavam na loja se prontificou a me oferecer hospedagem! Era uma pessoa muito atenciosa e que rendeu uma longa conversa, tanto por ele ser cicilista como por ele adorar estudar. A noite aproveitei para ir ao Shopping da cidade comprar algumas bolachas e ver se achava uma bolsa de água para substituir a minha que estava furada.

Pela manhã ele me levou a uma padaria próxima e tomamos um ótimo café da manhã e que ele insistiu em pagar. Minha viagem prosseguiu sem demora e pouco depois estava atravessando a cidade. Acabei tendo que interromper a pedalada para dar outra entrevista, desta vez para a Revista Alfa, da editora Abril. Estão escrevendo uma matéria sobre guarda de filhos.

Gilton e colega em Pirambu/SE
A viagem em si foi bem tranquila, com poucos trechos complicados. Havia comércios por perto e não foi muito difícil encontrar suprimentos. Em um dos locais que parei para comprar bolacha passei alguns momentos conversando sobre a história do meu filho. O pessoal que estava lá me encontrou vários quilômetros depois e me convidaram pra almoçar em Pirambu, o que prontamente aceitei. Fui não por causa do almoço, pois não almoço, mas pela companhia. Pude conversar um pouco com eles antes de seguir viagem.

Para sair de lá acabei me complicando um pouco. A maré estava cheia e se manteria assim até umas 21h00. Como meu farol não está funcionando desde Porto Seguro, a pedalada noturna estava fora de cogitação. Acabei procurando alguma trilha para seguir viagem e acabei gastando quase duas horas para descobrir para onde ir. A rota era sentido Lagoa Redonda.

Segui por vários quilômetros em estrada de terra até chegar na cidade. Foi uma surpresa! O lugarejo reune numa só região praias, lagos, cachoeiras e dunas. Pude fazer um pequeno tour na região ao finalzinho do dia. Valeu a pena.

Fiquei a noite em uma pousada bem simples em meio a natureza. Fui acordado duas vezes a noite, uma vez com uma barata andando sobre mim e outra com um bicho que certamente era o cruzamento entre um besouro e um avestruz. Mas valeu a pena. O lugar era bem organizado e os proprietários muito atenciosos. Tive um bom jantar e café da manhã. Minha partida foi cedo, umas 09h30.

Aproveitei a maré baixa e segui novamente pela areia da praia. Estou começando a pegar o jeito!


sábado, 6 de novembro de 2010

Apuros em Sergipe

Costa Azul
Manhã de empolgação, bem disposto pra pedalar e cruzar mais um estado. Infelizmente um problema que há dias estava incomodando e que realmente chegou a uma situação crítica foi a questão do dinheiro. Não haviam caixas do Banco Itaú fazia alguns dias e o dinheiro acabou. Fiquei sem recursos financeiros para nada além de uma refeição e não sabia mais o que fazer. O jeito foi continuar a viagem e descobrir o que faria depois.

Todo o caminho pela rodovia foi monótono, com algumas fortes subidas e sem nada pelo caminho. Meu objetivo era chegar a Mangue Seco, mas as informações eram contraditórias (pra variar). Em Conde disseram-me que havia um acesso direto. Já num posto rodoviário me foi informado que não era possível acessar a cidade e que meu trajeto deveria ser uns 100km maior do que eu havia planejado. Mais uma vez meu GPS me pregou uma peça: Em certa altura da estrada havia uma saída que seguia diretamente para o nome "Mangue Seco". Quando vi a saída, não tive dúvidas! O que não imaginava era que, na verdade, o caminho era para Costa Azul.

Verlon (meu benfeitor)
Cerca de 15km separavam a saída da rodovia até a cidade, onde recebi a informação que se tratava de um fim de linha. Não haviam estradas ligando o lugar a Mangue Seco, que ficava 35km de distância. Pra piorar, meu dinheiro estava tão crítico que nem mesmo água poderia me dar o luxo de comprar. Nestas horas a humanidade as vezes nos surpreende.

Parei em um restaurante a beira-mar pra pegar informações e acabei contando um pouco de toda a história. Imediatamente o pessoal de lá me ofereceu uma farta e deliciosa refeição, com direito a refrigerante e boa companhia. Foram todos muito gentis comigo, além de me orientarem uma alternativa para alcançar o Mangue Seco - 35km de pedalada na praia! Dizem que errar é humano e persistir no erro, burrice. Eu persisti. Segui as orientações do Sr. Verlon e não é que desta vez a bicicleta se sustentou na areia? Foi uma experiência mágica estar só, pedalando a 15km/h e ouvindo apenas o mar.


A chegada em Mangue Seco foi prazerosa. O local foi usado nas filmagens de Tieta do Agreste na Globo e é um lugar simplesmente lindo! Pra melhorar, tanto a pousada quanto o restaurante de lá aceitavam cartão de débito! Estava salvo! Ou quase.... a embarcação que faria a travessia era somente em dinheiro, o qual não dispunha. Pensaria no outro dia o que faria.
Mangue Seco/BA

Pela manhã seguinte me dirigi para a casa onde serviam o café da manhã e tive o prazer de encontrar uma família muito simpática e inteligente. Tivemos uma grande conversa e me informaram que o rumo que deveria tomar era o da praia do Saco, o qual eles seguiriam as 11h00 e me ofereceram carona. Estava salvo! Ou quase....

Pelas 10h00 fui até o local do encontro, para ter certeza que não perderia esta ajuda. O ponto era a beira do rio, onde fui abordado por um barqueiro. Ele me perguntou onde eu ia e ele se propôs a me deixar lá por R$ 5,00 (o que tinha na carteira) já que ele deveria fazer a travessia de qualquer maneira. Enfim, achei que tinha sido um negocião, mas vir a descobrir mais a frente que não.

O lugar que ele havia me deixado se chamava Pontal, mas não sabia deste detalhe até este momento. Pedi informações de como prosseguir para Aracajú e os moradores me deram as orientações. Pedalei por algumas horas até chegar numa cidade chamada Terra Caída, onde deveria pegar uma balsa e fazer a travessia.
Vanderlei em Terra Caída/SE

Lá encontrei um rapaz muito bacana que se prontificou a pagar um refrigerante e a balsa para mim (ele não sabia da minha dificuldade). A gentileza foi apenas pelo entusiasmo de encontrar um ciclista de tão longe. Ele me salvou da dificuldade que estava sem saber.

Durante o trajeto com a balsa, avisto a mesma ponte em construção que era visívil de Mangue Seco! Após horas de viagem, ainda estava praticamente no mesmo lugar! Dei uma volta enorme, ainda a uns 10km da praia do Saco!


Depois de um dia praticamente perdido, o jeito foi continuar pedalando até onde desse, no caso, Caueira. Parei quando já estava anoitecendo na única pousada da região e que não aceitava cartão! Tive que contar com a generosidade do proprietário em me receber no local e, principalmente, com a generosidade de um cliente de lá que me deu dinheiro para comprar comida.

No dia seguinte estaria em Aracajú. Lá, tinha certeza, haveria um banco Itaú para que eu pudesse resolver minha situação.