sábado, 23 de outubro de 2010

Bahia adentro

Alvorecer na Praia do Sossego
Despertar no paraíso é uma experiência inesquecível. Ao sair da minha barraca, me deparo com um belíssimo nascer do sol. Não esperava a visão linda, a brisa do mar, o barulho das ondas e a noite otimamente dormida. Meus novos amigos ainda descansavam da cerveja da noite anterior e assim ficaram por mais umas duas horas.

Fiz meus preparativos pra sair. Todo o ritual leva cerca de 1h30, incluindo o desmonte da barraca. Aguardei um pouco que despertassem para me despedir e prosseguir pelas trilhas.

Após sofrer tanto para entender o caminho, aprendi finalmente que o Picadão era a "avenida" em meio aos eucalípitos que cortava praticamente todo o trecho sem precisar seguir até as praias. A partir daí ficou muito fácil quase completar o percurso. Digo "quase", pois o Picadão acabava, depois seguia por dentro de uma fazenda.

Tive que atravessar por dentro de um riacho e também atravessar um longo trecho de areia antes de alcançar o rio Mucuri, porta de entrada da cidade de Mucuri. Apesar do percurso ter sido bem puxado, ainda estava cedo e eu tinha disposição para seguir adiante. Peguei a estrada de terra rumo a Nova Viçosa esperando chegar logo por lá. No entanto tive um grande susto.

Rodovia Estadual
Apesar da estrada de terra ser uma rodovia estadual, não demorou muito para que eu percebesse que não levaria a lugar algum. No final a rodovia se dividia em três direções: a mais reta terminava em uma porteira trancada com cadeado, a mais a direita atravessava duas grandes depressões e um rio. A terceira seguia rumo aos eucaliptos, que foi a que escolhi seguir.

É simplesmente impossível se encontrar dentro dos eucaliptos sem um mapa. Fiz zigue e zague por horas, avançando sempre muito pouco dentro da plantação. Foram horas de desespero tentando saber pra onde ia, pois não me achava mais nem pra seguir adiante nem pra voltar.

Por sorte, depois de muito tempo, encontrei uma via principal com moradores. Me informaram que seguindo esta via em linha reta, terminaria na BR-101. Apesar de temer esta rodovia, seria ótimo sair do lugar que estava. Segui em frente, passando por vários vilarejos pobres até chegar na BR.

Já era final do dia e a rodovia simplesmente não tinha acostamento. Era somente mato. Conforme caia a noite, ficava cada vez mais apavorado e sem rumo. Não havia qualquer hotel pelo caminho. Acabei tendo que caminhar na escuridão da BR, com os caminhões rasgando a rodovia. O descanso aconteceu em um posto de gasolina.

Portal de Teixeira de Freitas
Novamente bem cedo, prossegui para Teixeira de Freitas. Em 20km alcancei a cidade. Infelizmente achei o lugar bem mal cuidado. Como meu pneu estava muito desgastado, aproveitei a cidade e coloquei um novo pneu, pois o anterior estava muito rasgado. Ao retornar a BR, em cerca de 30 minutos de pedalada, o pneu estourou. Ficou um grande buraco que dava para colocar o indicador até a câmara. Achei melhor remendar o pneu e continuar a pedalar, o que foi um grande erro.

Neste trecho minha câmara furou um total de 8 vezes, até que eu desisti de vez de tentar reparar. A noite vinha caindo e ainda estava cerca de 15km de Itamaraju, próximo a descida da serra. Dei uma grande sorte quando um motorista me viu empurrando a bicicleta na descida e resolveu parar e me convenceu a pegar uma pequena carona neste trecho. Esta decisão me salvou de uma noite bem difícil empurrando a bicicleta.

Avenida em Itabela
A cidade era bem cuidada, com a bela visão de um monte por toda a cidade. Aproveitei o tempo extra para passear a noite e fazer um ótimo jantar. Pela manhã mais uma ótima notícia: A BR-101 possuia acostamento a partir deste ponto. Aliás, um bom acostamento, totalmente asfaltado. Minha viagem até Itabela foi prazerosa, com direito a pontos para água de coco.

Itabela é uma cidade de poucos atrativos, tendo poucas opções de pousada e de refeição, mas suficientes para me recuperar para o próximo dia.

Finalmente seguiria rumo a uma cidade que estava ansioso: Porto Seguro. Sempre quis conhecer a cidade. Havia um caminho de terra mais direto e um mais longo via Eunápolis. Optei pelo mais direto.

Vilarejo antes de Vera Cruz
Muita chuva pelo caminho e muita serra, pude conhecer pequenas comunidades extremamente pobres, por dentro de vias inacessíveis até mesmo de bicicleta, onde empurrar foi tarefa árdua que durou horas.

Muitos lugares não tinham energia e muito menos qualquer comércio, até alcançar a cidade de Vera Cruz. Pude me reabastecer de água e comprar alguma coisa pra comer e continuar a jornada.

Ao sair da pequena cidade, a chuva intensificou ainda mais e a pedalada ficou cada vez mais difícil. Nunca esperei passar tanto frio na Bahia quanto experimentei neste dia. Nem parecia com o lugar de sol que tanto ouvi falar.

Portal de Porto Seguro
Minha chegada em Porto Seguro foi embaixo de uma baita chuva e acabei não conseguindo ver muito pela cidade na noite. Segui até o centro e procurei um lugar barato para a noite, o que acabei encontrando rapidamente.

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