Caminho para Praia - Canavieiras |
Foi com pesar que deixei Canavieiras. Uma cidade linda e que certamente voltarei. Como saí muito tarde, a jornada foi pouco produtiva, ainda mais com a série de subidas e descidas que enfrentei. Não consegui seguir além de Una, onde se encontra a ilha de Comandatuba. Como não daria tempo de chegar na cidade seguinte, fiz um desvio de 6km e fui conhecer a tão falada ilha.
Confesso que fiquei muito decepcionado com o que vi. A ilha tem basicamente o hotel de luxo - R$ 1500,00 a diária em baixa temporada - e só. Tive que pegar uma balsa para chegar na ilha e fiquei confinado a ala pobre, que é um bar que fica ao lado do hotel. Pedi um caldinho de feijão e uma cachaça e fiquei olhando as ondas do mar por uns minutos. A vista é muito bonita, mas tem pouco o que se fazer por lá.
Comandatuba |
Terminado o pequeno momento de descanso, ainda dei uma volta na ilha e fui até o hotel enquanto a balsa não vinha me buscar.
Por causa do meu pequeno passeio na ilha, pude voltar apenas as 16h30 em função do horário da balsa. Meu trajeto restante até Una se deu no anoitecer. Cheguei por lá e fui procurar um orelhão pra ligar e não achei nenhum operando. É um problema bem recorrente na Bahia, mas compensado pela gentileza dos moradores. Prontamente providenciaram um telefone para que eu pudesse ligar. De lá fiz um bom jantar e segui para uma lanchonete para alimentar meu vício assim que entrei na Bahia: suco de cacau gelado. Tomei 3 jarras de 1L após o jantar! As moças da padaria já estavam olhando assustadas!
Luar de Una |
Na pousada, pela manhã, tive uma longa conversa com as simpáticas moças que cuidavam no local. Discutimos os casos que as mães impedem os pais de terem contato, e também dos pais que optam para não ter qualquer relacionamento com os filhos. Foi uma longa conversa que consumiu algumas preciosas horas de pedalada, mas que valeu a pena.
O próximo rumo foi Ilhéus. Infelizmente as distâncias entre as cidades me impuseram um ritmo complicado. Eram longas demais para fazer dois trechos em um só dia, mas curtas o bastante para me deixarem com muito tempo livre. De certa forma foi bom, pois pude fazer algum turismo e não apenas rápidas passagens pelos lugares. O trecho foi bem tranquilo, apesar das várias subidas, e pude chegar rapidamente em Olivença e, depois, em Ilhéus. Caminhei calmamente pela cidade, com o objetivo de encontrar a última pousada, já na saída da cidade. Encontrei uma pousada boa e barata, onde o casal proprietário do lugar me contou a história da filha deles que fez o caminho de Santiago de Compostela de bicicleta.
Praia do Cristo - Ilhéus/BA |
Meu jantar foi pizza, pois era a única opção na redondeza. O jantar pobre foi recompensado pelo café da manhã. Sendo eu o único hospede, os donos, assim que viram eu me levantando, foram correndo preparar o café, que já estava ajeitado apenas esperando eu dar o "ar da graça". Fizeram omelete, banana assada, suco, tudo quentinho e fresquinho. Foi um dos melhores cafés que tive até o momento, especialmente pela atenção que me deram.
Com a barriga cheia, segui viagem por uma bela ciclovia que ia até a Lagoa Dourada, que não cheguei a conhecer. Foram 32km de perfeita planície, que fiz em menos de 2hs tranquilhamente. A empolgação durou até ver o nome da próxima cidade: Serra Grande. A partir da serra, desci da bicicleta e fui empurrando por praticamente todas as subidas de todo o resto do trecho. Somado ao sol escaldante, foi realmente um trajeto difícil. É claro que toda a dificuldade tem sua recompensa.
Mirante II - Serra Grande/BA |
Há dois mirantes em Serra Grande, o primeiro logo no início da subida. A visão era magnífica, conseguia ver toda a praia embaixo e uma grande parte da vegetação. Aproveitei a barraca de água de coco e me reidratei um pouco - o sol estava REALMENTE escaldante - pra aguentar seguir subindo. Ao chegar no segundo mirante, alguns quilômetros a frente, a visão me deixou pasmo.
Obviamente a fotografia não chega aos pés da visão ao vivo, nem passa a sensação da grandeza da natureza que pude presenciar lá do alto, muito menos permite ouvir ao longe o barulho das ondas e o vento úmido soprando suave no rosto. A vista do alto é espetacular e merece ser vista ao vivo.
Itacaré/BA |
O dia seguiu bem difícil, cheio de altos e baixos, até chegar ao finalzinho do dia na cidade de Itacaré, a tempo de flagar um belíssimo por do sol a beira mar. Aproveitei e me dei um jantar de rei, parando na barraca em frente ao mar e comendo um belo peixe assado. Nada como comer assistindo o mar banhado pelo luar. Fui pra pousada e dormi um belo sono.
Ao amanhecer, tive um sério problema: não havia como eu sacar dinheiro na cidade! Estava sem nenhum tostão no bolso e me alertaram que seria a mesma situação por muitos quilômetros a frente. Fiquei apavorado em saber como seguiria. Fui até um posto de gasolina e pedi a gentileza para o gerente me arrumar R$ 20,00 (tirado do meu cartão de débito) para que eu tivesse com o que seguir adiante.
Com o dinheiro controlado, teria que ser bem econômico no trajeto. De fato fui, pois não havia onde comprar água por quase todo o caminho. Passei muita sede no trajeto, especialmente com o sol que insistia em maltratar. Apenas muito a frente eu localizei um oasis, onde pude comprar água de coco e completar minha água, o que me deixou com R$ 12,00 de saldo na carteira.
Camamu/BA |
Meu destino foi Camamu. Uma cidade curiosa em sua arquitetura, cheio de ruas estreitas e vários barcos pescadores. Pra variar, sempre em meios a muitos morros. Recebi uma atenção especial de alguns moradores, especialmente após explicar meu problema com dinheiro. Foram andando ao meu lado, me levando pousada a pousada até encontrar uma que aceitasse meu cartão. Fizeram o mesmo com o restaurante, mas não tivemos a mesma sorte.
Enfim, pude almoçar com os R$ 12,00 que tinha e seguir viagem no dia seguinte, levando, é claro, água extra para dar conta do percurso.
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