Mal via a hora de chegar ao Rio. Afinal, apesar de Minas ser o primeiro estado do trajeto, ele sempre esteve muito próximo do percurso. O Rio de Janeiro seria um marco de uma distância respeitável. Estive em poucas ocasiões no estado, visitando um amigo em Quatis, passeando em Penedo e, é claro, na capital. Eu pretendia passar por alguns lugares turísticos como Petrópolis, pois sabia que levaria muitos anos até ter uma nova oportunidade.
Saí de Bananal cheio de dores e fui imediatamente verificar o que houve com os freios. Obviamente deveria te-lo feito antes do tombo, mas é uma dupla estupidez não faze-lo após. A razão do freio não estar funcionando é pq ele já estava completamente desgastado. Eles não aguentaram a Serra da Mantiqueira Eu, leigo de tudo, deveria ter percebido que era isso, pois estava com pastilhas reservas no alforje.
Com muita dor, segui a pedalar. Foram diversos quilômetros por serras em uma rodovia cheia de animais na pista. Os carros sempre tinham que desviar, algumas vezes os apressadinhos davam belas freiadas. Enfim, algum tempo de percurso depois, eis que avisto a marcação de limite de estado. Muita alegria, com direito a fotos, e logo seguindo pedalando. Era apenas o começo do percurso até Barra Mansa.
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Muvuca em Barra Mansa |
Conforme fui adentrando ao Rio, alguns cenários começaram a me desagradar. Antes mesmo da entrada de Barra Mansa, muitas favelas beiravam a rodovia. Dentro da cidade, um verdadeiro inferno. Muitas pessoas, motoristas agressivos e o principal, que foi um verdadeiro susto pra mim - as pessoas têm aversão ao ciclista! Assim que entrei em uma padaria em Barra Mansa, a primeira reação foi a atendente gritar que a bicicleta tinha que ficar de lado de fora. Tudo bem... deixei-a na entrada e fui pedir um suco. Ela gentilmente o fez pra mim APÓS eu pagar. Era fácil perceber a volta que não era o procedimento padrão. Achei aquilo muito estranho, mas tomei como um evento isolado, ou talvez o fato de estar um tanto maltrapilho (não ando com espelho).
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"Acostamento" no rumo a Pinheiral |
De lá, segui para Volta Redonda. Durante o trajeto não havia qualquer ciclovia ou mesmo acostamento na via única que ia para lá. Os motoristas passavam buzinando zangados e "raspando" na bicicleta. Ao chegar na cidade, muito movimento e, salvo um ou outro, muita hostilidade dos moradores. A rodovia que saia da cidade era extremamente movimentada, com muitos caminhões e carros, e sem qualquer acostamento. Realmente meus planos de ir até Barra do Piraí foram mudados, pois não gostaria de ficar me arriscando em meio aos carros. Havia uma cidade no meio do caminho chamada Pinheiral. Apesar de sem acostamento algum também, a rodovia era um pouco menos movimentada.
Quando cheguei lá, o único hotel da cidade não queria me receber por causa da bicicleta. A senhora que atendeu resmungou algumas restrições e resolvi procurar outro lugar pra ficar. Rodei por duas horas a pequena cidade e nada encontrei. Coloquei vestes de humildade e voltei para o hotel.... por sorte o atendente era outro! Super simpático, pediu para que eu guardasse a bicicleta no quarto. Foi muito bom.
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Trilha rumo a favela do macaco |
Mais um dia se passou e comecei a ficar preocupado com a hostilidade geral com que fui recebido. Exceto pelo senhor do hotel e outro que conheci enquanto buscava informações na cidade, em geral o povo foi receoso com minha presença, tal como um intruso. Foi constrangedor. Tratei de seguir o quanto antes para Barra do Piraí. Desta vez tentei ir por trilha ao invés da rodovia. Poupei dos perigos de passar perto dos carros, mas acabei entrando num problema maior: a trilha terminava bem no meio da favela do macaco. Saí de lá rapidinho e sem incidentes.
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Praça em Barra do Piraí |
Fiz muito esforço, especialmente com as dores em minha mão que se prolongavam. Procurei um lugar para almoçar, esperando encontrar a aversão típica, o que de fato aconteceu. Não quiseram me receber no restaurante com a bicicleta, até que o dono percebeu que era de fora e permitiram que adentrasse. Como me explicaram, geralmente as pessoas que estão de bicicleta são "povo" (não com estas palavras) e é atípico um ciclista equipado andando pela região. Uma pena que pensem desta maneira.
Aproveitei pra justificar meu voto na cidade, o que, pra minha surpresa, foi feito com toda atenção e presteza pelo pessoal, mesmo fantasiado de ciclista. De lá, segui pedalando rumo a Vassouras. Cheguei bem no final da tarde, onde procurei um hotel para passar a noite. Acabei encontrando um lugar muitíssimo aconchegando, mas com a habitual recepção.
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Acostamento da BR-393 |
Pretendia sair de Vassouras e ir pra Petrópolis, mas decidi que definitivamente precisava sair do Rio o mais rápido possível. Aqui não é lugar para ciclista. Perdi o gosto de estar em um lugar onde não sou bem recebido. Pedalei como nunca, passando dos 65km no dia. Passei por Paraíba do Sul e cheguei numa cidadezinha chamada Três Rios. Que lugarzinho maravilhoso! Que povo acolhedor! Minha idéia em formação de que carioca odeia ciclista foi por água abaixo após conhecer esta gente. Me orientaram, deram toda atenção e presteza. Até encontrei um ciclista que me ajudou a subir com a bicicleta.
Enfim, vou descançar, mas amanhã pretendo pegar novamente um pedacinho de Minas com o intuito de passar o menor tempo possível no Rio. Vou me manter em rodovias até sair do estado, e depois sigo rumo ao litoral.
Gustavo, Parabéns pelo seu desempenho, continue assim
ResponderExcluirForte abraço
Ate mais
Luis
Grande Gustavo! Parabéns! estou acompanhando o seu trajeto! Realmente, voce verá que o povo do Rio não é nada hospitaleiro como dizem. Mas vá em frente, porque em outros estados, a recepção será melhor!!! FOORÇA GUSTAVO!
ResponderExcluirOi Gustavo somos do SAU 01 BR393, ficamos muito emocionados com toda sua história e coragem, estamos torcendo por você siga em frente que no final vai dar tudo certo.
ResponderExcluirQue Deus continue te abençoando!!!
Fala Chefe!!
ResponderExcluirParabéns vc sem duvida alguma é um vencedor...guerreiro..
Abração
Oiii Gu , estou acompanhando o seu projeto, estarei aqui sempre torcedendo para que de tudo certo, se cuida e coragem...
ResponderExcluirFique com Deus
com carinho
Márilia
bjsss
Estava empolgado com sua viagem, mas pelo visto você não conheceu o Rio de Janeiro nem os cariocas, e sim os fluminenses, descendentes das antigas fazendas de café que vivem das aparências. Ciclistas nesses lugares é povão. Tenho que rir. Quando voltar, experimente ir ao Rio de Janeiro, capital, e pedale pelas ciclovias das praias da Zona Sul, leve sua bike no metrô e faça manutenção nas inúmeras "casa de bicicleta" da cidade. Espero que sua opinião mude.
ResponderExcluirMorei em Três Rios em 99 e 2000. Se você achou uma ótima cidade, então, definitivamente, você não conheceu o Rio de Janeiro.
Volte ao Rio e conheça a cidade. Sua opinião vai mudar.
Boa viagem, torcemos por você!