sábado, 25 de setembro de 2010

Campinas a Monte Verde

Saindo da casa dos meus pais
No momento que escrevo este texto, estou em Monte Verde - MG, após apenas dois dias de jornada. Erros de planejamento me fizeram adiantar o percurso, pra tristeza da minha musculatura.

Passei a manhã do dia 23 arrumando a bicicleta junto com meu pai. Muita coisa nela não esta bem e ajeitamos o que foi possível. Fizemos um pequeno check-list dos itens, bem como montamos barraca, desenrolamos saco de dormir e tudo mais que havia de material. Enfim, abraços e beijos nos meus pais, e começo a dar as primeiras pedaladas. Pra ser sincero, comecei a jornada caminhando, pois era uma baita de uma subida!


Fazenda Bonfim em Joaquim Egídio

Parecia um ciclista de verdade! Fiz Sousas e Joaquim Egídio num piscar de olhos. Passei por várias fazendas, uma mais bonita que a outra. Fui pra Morungaba sem fadigar e ainda tive tempo de subir um baita subidão para fotografar uma imagem religiosa famosa na cidade. Este trecho foi bem tranquilo.



Meu primeiro objetivo foi procurar o Sandro da bicicletaria Ciclo Aventura. Eles são famosos por organizarem campeonatos na região de Morungaba. Aproveitei que era 12h00 e fui almoçar. Relaxei, tomei água de coco e dei uma volta enquanto esperava pela minha bike. As 14h00+- eu a peguei de volta. Ela estava irreconhecível! Muito melhor do que antes! De lá, Segui rumo a Bragança Paulista.



O sol estava impetuoso e me maltratou bastante ao longo de toda a tarde. Passei por vários vilarejos rurais e pude ver casas muito simples ao longo do percurso. Cheguei em Bragança já com o sol mais ameno, típico de um fim de tarde. A primeira coisa que fiz foi me informar de um camping a caminho de Joanópolis. Todos foram prestativos e me informaram sempre "é logo ali". Porém, por mais que pedalasse e seguisse adiante na rodovia, a frase era sempre a mesma: "é logo ali". Minhas pernas já haviam fadigado e a noite tomou conta do lugar. Pra complicar, a rodovia não tinha acostamento e os poucos veículos que passavam por lá faziam a toda velocidade. A preocupação começou a bater.


Alguns amigos tentaram localizar pelo Google Earth para saber se havia um camping ou hospedaria na região, mas sem sucesso. Acabei encontrando pelo caminho um carro quebrado, onde o motorista pediu socorro para um amigo de Bragança. Esperei por ele mais uma hora, mas não deu as caras. O jeito foi prosseguir.

Após muito tempo caminhando na rodovia, tropeçando em buracos no meio do mato e passando muita preocupação, localizei o Camping por volta das 21h00. No entanto, ao chegar lá, a informação: Não funcionam como Camping público há mais de 15 anos!!! Felizmente o proprietário do lugar, Sr. Efrain, foi gentil e permitiu que montasse uma barraca dentro da propriedade dele. Ele salvou minha pele!

Passei mais ou menos 1h aprendendo a montar a barraca, especialmente no escuro, e acabei conseguindo. Foi quando deixei a pequena mensagem no blog, pois quase não tinha sinal de celular e muito menos bateria no netbook e no telefone. Depois disso, peguei tudo que tinha comigo, barras de cereal e gel, para comer. Também havia comprado um pacote de bolacha. Estava morrendo de fome (desesperadamente com fome) e não iria abusar da gentileza do pessoal de lá. Apesar de terem me permitido ficar, senti que estava sendo um invasor aos olhos do pessoal de lá.

Tentei dormir. pois dizem que o sono faz passar a fome. Acabei cochilando alguns minutos, até que alguém começou a fazer barulho do lado de fora, perguntando quem eu era e o que fazia lá. Abri a barraca e vi duas pessoas - uma senhora e um jovem - olhando preocupados para mim. Contei minha história e a permissão do Sr. Efrain. Pois então ela me convidou a dormir na casa dela! Tive uma noite de rei! Tomei banho quente e ela me preparou um jantar delicioso. Também lavou minha roupa. Era uma pessoa muito simples, mas que me deu toda atenção e confiança. Dormi em três colchões que ela empilhou para que eu ficasse mais confortável. A dona Maria foi fantástica em toda atenção que me deu. Sou realmente grato a ela.

Pela manhã ela me preparou deliciosos bolinhos de chuva. Comi até cansar! Depois, em gratidão, peguei uma boa parte do dinheiro que estava levando e quis entregar a ela, mas ela não quis de maneira alguma. Tudo o que ela fez por mim foi por puro carinho e amor ao próximo, coisas que pensei que faltassem neste mundo.

Me despedi da Dona Maria e do Sr. Efrain e segui viagem. Nem dois quilômetros depois, já na Fernão Dias, havia um motel! Enfim, não trocaria por nada a recepção da Dona Maria.

Minhas pernas doiam muito por conta do esforço exagerado do dia anterior, já que não esperava adentrar a noite. Rendi razoavelmente na Fernão Dias até chegar no município de Vargem, na divísa com Minas Gerais. Entrei a direita rumo a Joanópolis, ainda na divisa São Paulo. Não imaginava a beleza desta estrada! Que lugar lindo! Visões maravilhosas da água do alto das montanhas! Subídas muito íngrimes e cansativas, mas que valiam cada gota de suor. Fiquei maravilhado com a região. Cheguei em Joanópolis quase as 14h00, ainda sem almoço e procurando um restaurante. Me informei no portal da cidade e prossegui rumo ao centro.

Fui bem orientado em como seguir para Monte Verde. Não achei o tal restaurante, mas havia placas indicando outro alguns quilômetros a frente. Fiz a opção de comer por lá. No entanto, mais surpresas. Quando cheguei no local do restaurante, uma grande placa indicava: "Aberto nos sábados, domingos e feriados". Estava com fome e pouquíssima água, e achei que não valia a pena voltar, mas arriscar outra opção ao longo da estrada. Percorri quase 10km até encontrar um pequeno lugar, chamado "Casa do Lobisomem", na beira da pista. Parei imediatamente, onde comi uma deliciosa porção de linguiça. Fiquei quase 1h por lá, repondo a água e as energias. Conversei com o proprietário e seu filho, pessoas muito boas. Peguei algumas dicas do caminho para Monte Verde, bem como as orientações quanto a dificuldade da estrada. Sabia que pegaria um pequeno pedaço da noite, mas já estaria próximo a cidade.

Descobri que sou péssimo para planejamentos. Começou uma forte chuva no caminho e numa estrada de terra. Logo se formou lamaçais enormes, onde simplesmente não era possível subir. Por mais força que fizesse, a bicicleta e meus pés escorregavam, levando meia hora e muito esforço para cumprir pequenas subidas. A corrente da minha bicicleta se partiu e caiu em meio ao lamaçal. Não pude encontra-la, pois já estava ficando muito escuro. O frio e a noite tomou conta do lugar, e o farol quase não tinha utilidade, pois a neblina estava muito densa. Nunca passei tando pavor na minha vida. Um lugar completamente deserto, com sons estranhos a volta, as vezes vultos cruzando atrás de mim. Lembrei a todo momento aquele filme: "A bruxa de Blair". Minha água havia acabado e eu tentava coletar quaquer coisa que pudesse da chuva, mas muito pouco juntava nas minhas caramanholas. Não conseguia ficar parado por conta do pavor e do frio, mas também não conseguia continuar por falta de forças. Não haviam casas ocupadas nem muito menos qualquer veículo. A cada dez minutos no máximo tonava um grande susto por conta de algum animal que saia correndo. Não avistava luzes ou sinal de civilização.

Certo momento perdi as forças para caminhar. A fome era desesperadora e comecei a comer afoitamente uns chocolates que havia comprado na parada anterior. Mal conseguia dar um passo e não avistava qualquer fim. Estava a um passo de desmaiar, ou por sede, ou por frio ou por fome ou por exaustão. Esta tortura durou quatro horas e meia, quando finalmente um veículo apareceu. Sinalizei por socorro e, pra minha surpresa, pararam pra ajudar. Me deram a informação que havia uma pousada a pouco mais de um quilômetro. Alguns passos adiante a estrada de terra encerrava e se encontrava com a rodovia asfaltada de Camanducaia para Monte Verde. Apesar da exaustão ser muito intensa, a felicidade de ter chegada na civilização foi repositora. Consegui, no terceiro hotel, encontrar um lugar pra ficar. Pedi por comida. Eles não serviam a esta hora, mas seu Carlos, que estava recebendo os hóspedes, fez a gentileza de preparar um misto quente com ovo e me levar um refrigerante gelado. Foi uma felicidade completa. Comi desesperadamente e bebi ao mesmo tempo. Engasgei mas não conseguia parar de colocar o lanche goela a baixo. Precisava muito de comida.

Ele me acendeu a lareira e foi embora. Tomei um banho muito quente para tirar o monte de lama que impregnava meu corpo e me enrolei nas cobertas. Apaguei por completo até o outro dia.

4 comentários:

  1. E então ... eu falei para Vc. que a preparação não era suficiente ainda, mas é assim mesmo, agora é dosar melhor as forças e a energia das baterias e dar sinal de vida mais vezes durante o dia... para não ficarmos aqui quase 24 horas sem saber onde Vc. estava...até agora 20:245 h o sinal do GPS não deu mais sinal de vida, a bike continua travada la na curva a 6 km de Joanópolis...mas não desista, Vc. viu que apesar de todos os percalsos do caminho encontrou muita gente boa e disposta a ajudar e tenho certeza vai ser assim até o fim da jornada...firme e forte sempre em frente...

    ResponderExcluir
  2. Me parece que vc não está tão bem preparado quanto o necessário para uma viagem tão longa. Até mesmo os alimentos que vc está ingerindo não te ajudarão a repor as energias necessárias. E parece-me também que vc não tem ninguem te acompanhando. É muito perigoso e arriscado fazer algo assim, sem experiência e preparação devidas. Não seria melhor pegar um avião e chegar mais rápido ao destino?

    ResponderExcluir
  3. Gustavo,


    Pelo amor de Deus, não nos deixe tanto tempo assim sem mandar noticias, onde Você está? :P

    ResponderExcluir
  4. Alo Reinaldo,

    Vc. tem o meu telefone, me liga que eu tenho mantido contato direto com o Gustavo (claro que tirando os locais nos fins de mundo que o celular não pega) estou acompanhado diariamente os passos dele.
    Abraço,
    Fernando

    ResponderExcluir